Friday, February 16, 2007

Devido a ter iniciado uma conta gmail o autor deste blog está a ter dificuldades em realizar novas postagens.

Tuesday, December 12, 2006

BESTIÁRIO VEGETAL - esculturas suspensas, apresentadas em A Noiva do Campo Mil, Galeria Diferença 12 Março a 30 de Abril 2005.

Exposição apoiada pelo Serviço de Belas Artes da Fundação Calouste Gulbenkian e Superfície Pictórica.
Agmacavar (escultura vermelha) 2002/4
Sutapiram (escultura lilás) 2002/4
Pagestal (escultura branca) 2004
Capiao (escultura azul) 2003/4
Garokoro (escultura verde) 2002/4
Buralga (escultura laranja) 2003/4
Um traço nómada


Eis seres múltiplos que são planta e homem e nos convocam a uma realidade misteriosa. Cada um deles cala uma história e, ao mesmo tempo que se funde com outros seres igualmente múltiplos e plurais, não perde a sua identidade.
Se procurássemos a genealogia destes traços certamente iríamos parar às iluminuras, às figuras de pedra das catedrais medievas, ao povo das terras nunca vistas dos bestiários, ao homem-planta de quem falava Gil Vicente e aos desenhos dos xamãs. Mas aqui estes seres não estão ao serviço de uma mensagem, unicamente servem a surpresa. Todos estes seres polissémicos que, num circo de transformações à nossa frente, apontam não uma, mas várias direcções simultâneas. Convidam-nos ao soberano acaso que preside aos jogos e que acerta sempre em fazer as distribuições e os combinatórios inesperados. Estamos diante dos jogos de Proteu, jogos de metamorfose em que o jogador se transforma no próprio jogo.
Seres plurais, orientados para a sensualidade especial do lúdico, às vezes devoradores outras devorados, interceptam-se, cruzam-se, vivem para captar cor, para transmiti-la, para sugerir que a cor em si é energia. São, depois de uma passagem pelo povo invisível dos bosques, um pouco do povo invisível urbano, oriundo da surpreendida natureza urbana, ainda não domesticada pelo cimento, pelos parkings, pelas barreiras electrónicas do metro.
Ver o que ainda nunca se viu é o que compete ao artista, assim todos estes seres são únicos, exemplares, não repetem Arcanos e formam por isso um universo novo, evidentemente em expansão.
Alguns deles são caricatos, outros abertamente playful, e todos são clowns, de uma espécie que Nietzsche subscreveria - o clown epistemológico. Alguém que juntasse ao papel decisivo da carta do Joker e ao destino aberto a 360 graus da primeira carta do Tarot, o Louco, a sapiência do Eremita, neste caso o Eremita Urbano surpreendido pelas revelações do seu próprio circo.
Profundamente urbanos, mas não primordialmente humanos, estes seres remetem para a Dança das Energias Luminosas, de que nos falam em registos diversos os desenhos dos xamãs, as instruções dos Tantras. A criação para o criador é uma dança e um jogo (Lalita) mas aqui, nestas pinturas que respiram e transmitem energia mais do que aludir a ela, a nova criação faz-se diante dos nossos olhos.
Por isso, sem dúvida, uma imaginação nómada, que se ri das fronteiras, transvasa neste traço fértil, irreverente, num torrencial contido, disposto a não ceder a nenhuma crença ou postura de arte, ideologia ou religião. É uma imaginação altamente metafórica que nunca se replica. Convida-nos a entrar num universo em tudo oposto ao universo serial e monofórmico dos clones.
De certo modo, em A Noiva do Campo Mil, as esculturas (formando parte de um Bestiário Vegetal in progress), feitas num registo contra a escultura - ao privilegiar o suave, o levíssimo e a suspensão -, ao mesmo tempo que são autónomas prolongam a imprevisibilidade dos desenhos.
Podiam ser consideradas aceleradores das partículas mutantes, como introdutores de novos factores de incerteza no destino já de si indecifrável dos seres múltiplos, e também funcionam como bombas de água que transportam elementos nutritivos dos registos bidimensionais para os tridimensionais.
E vemos que, ao contrário do mundo funcional que é meramente coercivo e normativo, tanto os desenhos como as esculturas estão carregados de intenção. Essa intenção obstinada que pode levar a uma verdadeira tomada de poder, o poder pessoal de circular entre todo o tipo de realidades.

Miguel de Castro Henriques, prefácio do livro/catálogo "A Noiva do Campo Mil", 2005.

Sunday, December 03, 2006


PRESS QUOTES

The Bride of Field 1000


These drawings and sculptures reveal a name to bear in mind for the future. Susana Neves with The Bride of Field 1000 opens the doors to a universe where only those who dare open their senses and imagination can enter.
Another Kingdom of this World, Pedro Teixeira Neves, Magazine Artes, March 2005


Susana Neves created a bestiary. Not a treaty of religious instruction, anchored in a naif simbolism, representative of the mysteries of religion and medicine as it happened in medieval times, but some kind of a collection of possible beings, others. "Did not writing come from reading trees?"


...however her bestiary is not just a zoo fused with the plant kingdom, but it is also a calligram, inserted in the oriental tradition of image-action, image-imagination in its incompleteness and suspension.
Garden of Words, Aroma`s Dance, Ana Marques Gastão, Diário de Notícias Newspaper, 23 March 2005


"I`m interested by gestures, by their spontaneity before control" (... ) a symbiosis between writing, image and spectacle: "my writing is visual and my drawings one way of writing."
José Manuel Rodrigues da Silva, Jornal de Letras (Literary Newspaper), 15 March 2005.


...(these drawing are) energetic speculations in the drawing filed, contaminated by literature, seeking for a vivacious plastic resolution...the light suspended sculptures...lead the drawings`agility to the context of a biomorphic and animalist bestiary...
Celso Martins, Art Critic, Expresso Newspaper, 2 April, 2005.

Monday, November 27, 2006

The Bride


of Field



1000
O livro-catálogo A Noiva do Campo Mil, edição de autor de 500 exemplares, tem um ensaio do escritor e poeta Miguel de Castro Henriques e tradução do escritor e investigador pessoano Richard Zenith. O design é de Inês Sena, as fotografias de José Manuel Costa Alves (como aliás todas as referentes às minhas obras apresentadas neste blog), a impressão foi feita na GUIDE.

Encontra-se à venda na Galeria Diferença, que acolheu a exposição, na Galeria Gomes Alves, em Guimarães, e ainda na Buchholz, Livraria da Biblioteca Nacional, e Espiral. Se quiser um pode solicitá-lo através deste blog.
Pretendi testar a espontaneidade do fazer, não pensei que queria desenhar esta ou outra figura, limitei-me a encontrá-la;
Queria escrever sem texto, inventar um novo alfabeto, por isso as formas nasciam fechadas à maneira de ideogramas, sendo-lhes posteriomente acrescentados pormenores que os identificavam e esclareciam. Lentamente fui-me apercebendo de que inventava uma galeria de personagens novos, seres sincréticos, compactados, hibrídos, cada um, como diria Tabucchi, uma constelação de seres.
O mais difícil seria encontrar a disponibilidade para sonhar acordada, uma vez alcançado esse estado de "maravilhosidade", as imagens fluem com abundância e a mão parece desenhar sozinha, a sensação é de grande felicidade mas basta qualquer ruído para a quebrar.
Não quis que os desenhos contassem histórias, nem fossem uma paródia ou sátira do real, procurei conectar-me com o meu imaginário e a maneira que tenho de olhar o mundo, procurando ir à essência, atenta ao Belo e ao que existe mas não se vê na Natureza e nas pessoas. A aparecerem histórias elas são do domínio do inconsciente, não sei nem quero saber o que dizem, limito-me a escolher as que mais me atraem.


Não gosto que as obras apareçam identificadas por "Sem Título" ou com uma designação descritiva, por isso inventei para cada uma espécie de haiku à ocidental.
Este trabalho é pois uma investigação de essências quase sempre invisíveis mas determinantes, nessa medida é um trabalho poético e encantatório.
Existe um optimismo de base, nestes desenhos que a meu ver, numa análise posterior à sua realização, consiste em não reduzir um personagem a uma só forma, todos são múltiplos, não estão limitados a uma só natureza, a um molde, são por essência metamorfose, logo vitais.

SN
Lisboa, Março 2005